quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Cinzas Pintadas

Encaracolo o olhar, Removo a face, Para te conhecer... Descubro a carne, Queimo os ossos, Purifico o que de mim resta, Solto ao vento, Porque a natureza enterra, Parto, reparto, Deito-me à espera , ainda a pintar...

Pontes Celebrantes

Queira ou não queira, A carnal submissão humana, Ergue faixos que se distendem, Quando os homens não compreendem, O lacrimejar das pedras, Que do tempo das Quimeras, Ergueram pontes aos felizardos. Fundidas pelas feras, Levaram a argamassa dura, Que até hoje perdura , E, outrora fora magma incandescente. Um qualquer castiçal prudente, Ergueria a mesma luz, De peregrino errante, Caminhante do desespero, Que clama pela razão, Em sacrificial profecia, De sacrosanta celebração.

Velante Ser

Velante Ser O lacrimejar das estátuas, Branqueadas pela luz Na penumbra da noite, E a nocturna consciência, Abalam o coração que resoa, Como um tímbalo que retine, Como um sino que toca, Mendigando, Como a vela acessa a tornar-se peregrina, Do meu humano velante ser...

Sofrida Adoração

Qual monge guerreiro, Cavaleiro de bíblia na mão, Se intrepôs à vontade do homem ?! Qual Humana voz que chora, Se comove com o gritar dos incardidos ?! O pano caído jamais será levantado, O teatro embora perdure agita As celestinas complacências. Quando vieres, vem devagar, Mas leva-me depressa ... Qual submissão das feras, Homem, Touro, Águia , Leão, Todos se prostraram, Todos são servos, da sofrida adoração.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

O Objectivo da Arte não é ser Moral nem Imoral

Por Fernando Pessoa A arte não tem, para o artista, fim social. Tem, sim, um destino social, mas o artista nunca sabe qual ele é, porque a Natureza o oculta no labirinto dos seus designios. Eu explico melhor. O artista deve escrever, pintar, esculpir, sem olhar a outra cousa que ao que escreve, pinta, ou esculpe. Deve escrever sem olhar para fora de si. Por isso a arte, não deve ser, propositadamente, moral nem imoral. É tão vergonhoso fazer arte moral como fazer arte imoral. Ambas as [cousas] implicam que o artista desceu a preocupar-se com a gente de lá fora. Tão inferior é, neste ponto, um sermonário católico como um triste Wilde ou d'Annunzio, sempre com a preocupação de irritar a plateia. Irritar é um modo de agradar. Todas as criaturas que gostam de mulheres sabem isso, e eu também sei. in 'Sobre «Orpheu», Sensacionismo e Paùlismo'

"Eros óptico"

segunda-feira, 24 de agosto de 2009